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Poesia trovadoresca, 2021

Tudo é poesia

Na literatura, a poesia é canto e encanto, é documento e momento, é corpo e alma, é sinceridade e fingimento, é, ainda, quando associada à música, palavra modelada que baila ao ritmo da melodia. Tudo isto se encontra na poesia trovadoresca, nas suas cantigas de amigo, de amor, de escárnio e de maldizer.

Talvez se possa pensar que os alunos do século XXI não se revejam neste tipo de textos, seja pela especificidade dos temas, seja pela peculiaridade da forma. Desengane-se quem julga que esta poesia é coisa do passado e que os assuntos abordados estão desfasados da realidade em que vivemos. Os sentimentos e as motivações que levam à criação do ato poético são intemporais. Ao longo dos séculos, o sentimento amoroso foi o tema predileto dos poetas. Nas cantigas de amigo, a voz que se ouve revela toda a subtileza da psicologia feminina, encontrando aqui uma das suas expressões mais belas, que impregna de realismo quadros sentimentais, familiares e sociais, perfeitamente atuais. Já as cantigas de amor são a expressão da paixão em voz masculina, cadenciada pelo sofrimento amoroso, lamento de um amor não correspondido, encenado à sombra do “amor cortês”.

Paralelamente a esta corrente lírica, desenvolve-se um género satírico, representado pelas cantigas de escárnio e maldizer. É a sátira aos costumes sociais, aos comportamentos morais, à política, entre outros aspetos merecedores de um olhar crítico sobre a sociedade medieval.

Seja qual for o género, esta poesia, para além de constituir um importante acervo documental da época, oferece-nos a possibilidade de nos revermos como seres humanos que somos e na forma como olhamos e tratamos os outros.

Com esta intenção, os alunos do 10.º ano de escolaridade foram desafiados a escrever poemas, contemplando os vários géneros da lírica trovadoresca, mas adaptando os temas à sociedade atual e à sua vivência pessoal. Vendo bem, a forma como olhamos para o mundo e o questionamos, bem como o diálogo que estabelecemos connosco e com os outros, tudo é ou pode ser poesia.

Madalena Toscano, professora da disciplina de Português

Cantiga de amigo

Sofrimento prematuro

 

Estou eu desesperada por meu amado,

ele que terá partido, de mim está afastado.

Deverei preocupar-me?

 

Estou eu desolada por meu amigo,

eu que fiquei inerte por já não estar comigo.

Deverei preocupar-me?

 

Ele que terá partido, como ficarei eu?

Minha amiga ajuda-me, preciso de ombro teu.

Deverei preocupar-me?

 

Eu que fiquei inerte, sem saber se morreu,

diz-me o que fazer, o meu coração desfaleceu.

Deverei preocupar-me?

Tomás Malva e Martim Cruz, 10.º CSE

Cantiga de amor

Por Vós eu morro, minha Senhor

 

Senhora, por vós triste vivo,

amargurado pelo desgosto.

A vida não faz sentido,

se não olhar para o vosso rosto.

Senhora, deixai-me morrer!

Sem vos ver, não quero viver.

 

Neste amor de pura ilusão,

que me enche o coração,

se para vós não olhar,

minha vida não quero continuar.

Senhora, deixai-me morrer!

Sem vos ver, não quero viver.

 

Sem o vosso amor,

Que triste vida, minha “senhor”!

Rafael Silva e Francisco Monteiro, 10.º CSE

Cantiga de maldizer

Donald Trump morreu por ignorância

 

Donald Trump morreu por ignorância

em seus discursos pela liderança,

devido ao excesso de confiança

e poder em abundância.

 

Uma crise assim imposta,

solução por descobrir,

a democracia decomposta

e o gordo continuando a mentir.

 

Mais um velhinho no hospital,

a morte já chegando,

o povo pensando na capital

e o Trump desligando.

 

Mas que grande resolução

para a perda da votação!

Romeu Lopes e Rafael Patrão, 10.º CSE

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